Monday, October 1, 2007

Jogo dos sete erros

  1. Loja em shopping na Zona Sul de São Paulo é roubada;
  2. Pela segunda vez nesse ano;
  3. Vigia é baleado;
  4. Disparo provoca pânico no shopping;
  5. Lojas são invadidas por pessoas assustadas;
  6. Vendedores trancam as portas das lojas para não serem furtados;
  7. O supermercado Carrefour não trancou as portas e foi lesado por várias clientes que saíram com carrinhos cheios e não pagaram na confusão.

Wednesday, August 29, 2007

Onde está Ali Babá?

Esta semana entra para a história do judiciário brasileiro. Terminou na terça-feira, dia 28 de agosto, a apreciação da denúncia do Procurador-Geral da República contra 40 envolvidos no famoso esquema do mensalão.
É verdade que o fator tempo ainda é um problema, já que esta história veio à tona em maio de 2005. Mas só de saber que houve uma denúncia, é uma vitória a ser comemorada. Ainda está presente a lembrança do apelido dado ao cargo de Procurador-Geral da República, também conhecido por Engavetador-Geral da República, pela ausência de denúncias efetivas contra agentes políticos importantes.
Uma outra vitória é ver que a apreciação da denúncia foi, dentro do possível, um grande evento jurídico. Não dá para imaginar que o plenário do Supremo consiga, de alguma forma, ser um palco apolítico. Apartidário, sim, isso é fundamental. Mas não apolítico - seria tão falacioso quanto acreditar na imparcialidade dos cientistas sociais, teoria que há muito foi superada. Mas as denúncias foram analisadas de forma didática - muito melhor que muitas aulas de direito em pseudo-faculdades Brasil a fora (e a dentro também).
Traz um ar de seriedade ao debate o fato de os Ministros discutirem a precisão do significado de quadrilha e organização criminosa, se a associação para o crime é ou não um crime autônomo. Foi, definitivamente, um bonito espetáculo jurídico, televisionado, reportado e fotografado com ares de democracia - ainda que, no meu entendimento, fotografar e-mails em computadores alheios não seja tão democrático assim.
Também vejo com bons olhos o fato de que nem todas as denúncias foram aceitas por unanimidade. Tivessem sido todas unânimes, para mim estava posta a intenção de "fazer bonito" aos olhos da opinião pública, sem compromisso com o julgamento que virá.
Sim, porque este, é só o primeiro passo. Ainda falta o devido processo legal, como dizem(os) os advogados. Aliás, isto me lembra que esta foi outro mérito da semana: falou-se português no Planário, paa que todos pudessem entender o que estava sendo dito e analisado. Quase nada se ouviu de latim ou juridiquês, mais um comportamento democrático.
Agora, resta ver como o processo caminhará. Resta saber como a mídia se comportará, se acompanhará ou não o desdobrar do processo. Resta saber se o Supremo continuará a ser eminentemente jurídico ou se fará ele o papel de engavetador.
Denúncias feitas contra os 40 acusados, resta saber, por fim, onde está Ali Babá.

Tuesday, August 28, 2007

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: ratificá-lo ou não o ratificar?

Carta à Dad Squarisi - Correio Braziliense

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: ratificá-lo ou não o ratificar?
Cara Dad,
Leio sempre sua coluna no Correio Braziliense e divirto-me com ela. O assunto tratado hoje - o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - é, entretanto, motivo de indignação para mim. Em vez de refletir mudanças realmente necessárias na língua, é, em minha opinião, uma iniciativa boba e sem grandes benefícios práticos. Seus idealizadores já consideraram, por exemplo, que essas mudanças podem dificultar o aprendizado da língua portuguesa por estrangeiros ou mesmo por brasileiros em alfabetização?
Como saberão esses aprendizes se eloquente - sem trema - deve ser pronunciado como inconseqüente ou como quente? Ou se assembleia - sem acento agudo - tem a pronúncia de semeia ou papéis? Já se imaginou que o tiro pode sair pela culatra e que cada vez menos pessoas queiram - ou possam - aprender bem o nosso português?
Talvez me falte visão e me sobre radicalismo, mas acho que corretos mesmo estão nossos primos portugueses, que entendem que há outras questões muito mais sérias a serem resolvidas no país deles do que padronizar seu idioma com o do Brasil ou o de Cabo Verde. Pelo que me consta, Estados Unidos, Inglaterra e outros países anglófonos muito bem-sucedidos tampouco se preocupam em unificar as regras dos diferentes estilos de inglês que falam.
Adoro a língua portuguesa, mas acho que a maior preocupação dos brasileiros no momento é colocar político corrupto na cadeia, consertar estradas esburacadas e melhorar o sistema de saúde do país. É claro que a educação também é prioridade, mas para melhorá-la não temos de assinar ou ratificar grandes acordos. Precisamos é de vontade política e do mínimo de decência na administração pública.
Cordialmente,
Adriel Amaral.

Thursday, August 9, 2007

O novo Dalai Lama

Não são poucos os exemplos, na história da humanidade, em que Igreja e Estado se sobrepõem e até mesmo se confundem em suas atividades - não consigo deixar de lembrar das igrejas católicas de Salvador, no Pelourinho, que ao lado da bandeira do Divino Espírito Santo, ostentam também a bandeira do Estado da Bahia.

Mas esta agora, confesso, vai se tornar inesquecível para mim: o governo chinês chamou para si a responsabilidade pela identificação da nova reencarnação do Dalai Lama. Ou seja, se não tiver o carimbo do governo, nenhum novo Dalai Lama pode ser anunciado! É... separação entre os assuntos do céu e da terra, para quê?

Fica aí o link, para quem quiser conferir:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=840459&div_id=299

Wednesday, August 8, 2007

Vitamina C

Acordo às seis da manhã, ouvindo, como se estivessem dentro de meu quarto, carros que conduzem ao trabalho, certeiros, pessoas que não precisam contorcer-se na cama agonizando diante de mais um dia que irrompe. Ainda tento uma última fuga da realidade enfiando, de bruços e desajeitadamente, a cabeça debaixo do travesseiro. A dor martiriza meu pescoço e resolvo tentar o outro lado, o direito. Não há mais o que fazer: o sol já vence a resistência das persianas e castiga minhas pupilas descobertas por pálpebras trêmulas e roxas. O nariz e a garganta foram, como cada centímetro quadrado de Brasília nesta época do ano, abandonados pela umidade. Tateio sobre o criado mudo um copo e deixo minha goela acreditar que pelo menos por aquele gole vale a pena começar o dia. Não sei por que razão, decido tomar também um comprimido de vitamina C que retiro de um frasco preenchido pela metade. Comecei a tomar essa vitamina para recuperar-me de uma cirurgia feita dois meses atrás. A oitava de meus trinta e um anos de sobrevida. Corte cicatrizado, ácido ascórbico abandonado. Talvez inconscientemente tenha voltado a tomar os comprimidos hoje porque fui advertido por um médico na semana passada de que a nona cirurgia pode ser iminente. Ou talvez espere que esse C entre, mesmo que minúsculo, em meu corpo, expulse o D que não me abandona, e dê um pouco de cor a minha vida.

Hoje não é quarta-feira e posso ficar em casa. Decidi que às quartas não fico mais em casa. Acho antiético levantar os pés para minha faxineira limpar a poeira sabendo que a limpeza semanal de meu apartamento é sua única fonte de renda atualmente. Prefiro que ela não tenha de contorcer-se na cama tentando entender por que essa renda, mísera, é paga por alguém que nem está trabalhando. Mas hoje é segunda-feira e ela não vem, então meu copo de café preto, sem açúcar, pode ser tomado debruçado no parapeito da janela, fitando o Paranoá. Poderia assistir ao noticiário, mas tristeza com raiva é combinação dolorosa demais. A cada vez que ouço nomes de senadores envolvidos em escândalos minha vontade é de jogar-me do quarto andar onde moro, já que não tenho coragem de ir ao Senado ou ao raio que me parta e cuspir na cara de cada um deles. Além disso, um quarto andar me renderia, no máximo, uma décima cirurgia.

Desde que decidi que minha carreira na ONU não fazia sentido, não consigo encontrar sentido em mais nada. Não é uma daquelas crises de depressão que atacam entre o fim de um namoro e o próximo aumento de salário. É daquelas que se sentem quando ainda se é jovem demais para saber o significado da palavra depressão e parecem que só vão acabar quando estiver tudo acabado. Pelo que me consta, emprego não me falta; só me falta disposição. Este ano mesmo tive um bom, no Ministério do Turismo. Custava-me, entretanto, convencer turistas a virem para o Brasil sem poder dizer-lhes que correm o risco de serem assaltados ainda na Linha Vermelha – recém-saídos do aeroporto – ou que, livres desse infortúnio, terão sorte se escaparem de um pilhagem em Copacabana. Isso se não morrerem com uma bala perdida na cabeça.
Alguns amigos me dizem que o melhor é fazer concurso público. Ainda não sei bem o motivo de não fazer um: não consigo decidir se é por pura apatia e preguiça ou se é por acreditar que eles só aumentam a mediocridade da administração pública brasileira, infestada de pessoas competentes – pois hoje em dia não é qualquer um que passa em concurso – que se esforçaram tanto para nunca mais terem de fazer qualquer esforço na vida. É a tal estabilidade, conceito que não domino.

Como meu nariz, minha pele e meu cabelo, meu copo de café também já está seco. Já que não é quarta-feira, decido eu mesmo dar uma geral na cozinha. Pego o filtro descartável que usei na cafeteira minutos antes e jogo-o no lixo com tocos de cigarro e resto de pão. Apesar de os alertas sobre a destruição do meio ambiente serem cada vez mais constantes nestes dias, na minha cidade, capital do país, ainda não existe um programa de reciclagem de lixo. Gostaria de reciclar minha vida.

Texto de Adriel Dutra Amaral.

Tuesday, July 17, 2007

Crônica de 176 mortes anunciadas

Desde ontem, não consigo pensar em outra coisa que não neste absurdo que foi o acidente da TAM em Congonhas (http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL72608-5605,00.html). O avião atravessou uma avenida movimentadíssima e parou do outro lado, dentro de um posto de gasolina. E nós, onde vamos parar?

Infelizmente, o "acidente" de ontem está há muito anunciado. A chamada crise aérea vem sendo tratada com descaso e com declarações que seriam cômicas, se não fossem trágicas e, pior, completamente inadequadas. Não há como "relaxar e gozar" (http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL51536-5601,00.html) quando se precisa viajar de véspera para não perder uma reunião no meio da manhã em outra cidade. Por mais que seja um "sinal de prosperidade" (http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL56557-5598,00.html), espaço aéreo em crise é, na verdade, entrave ao tão desejado - e alardeado - crescimento econômico brasileiro. E o "acidente" só aconteceu porque não ouviram o presidente da Infraero, que declarou que "melhor proteção para um avião não cair é ele não decolar"...(http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=363222). Melhor mesmo era ter ficado calado, como o ministro da defesa - aliás, por onde ele anda?

Me recuso a chamar o que aconteceu ontem de acidente. Para mim, foi um assassinato em massa, do qual são cúmplices todas as autoridades que, ao longo de anos, nada fizeram para resolver a situação da crescente demanda por transporte aéreo no país. Desde 2002 ouço falar de problemas no radar de Brasília. Ou seja, o problema aéreo não é novidade, não surgiu com a queda do avião da Gol, há quase 10 meses.

Mesmo que o problema seja uma falha humana e não a (má) qualidade da pista de Congonhas, há muito denunciada pelos pilotos, há uma falha na gestão do sistema aéreo, que permite um tráfego tão intenso, de aviões de grande porte, no meio de uma grande cidade como São Paulo.

O tal plano de modernização dos aeroportos brasileiros, em muitos casos, não passou de cosmética, de novas roupagens para terminais de passageiros que mais se pareciam com grandes galpões de carga. Muito pouco se fez em melhoria de segurança. Cosmética esta que foi usada como palanque de campanha, até com dupla inauguração, como no caso do aeroporto de Guararapes, em Recife.

No caso do aeroporto de Congonhas, me lembro que em setembro desembarquei lá e ouvi do taxista que me levava para o meu compromisso a triste história de que haviam tirado alguns tapumes e plantado tapetes de grama às pressas para que o presidente pudesse inaugurar as obras (inacabadas) do aeroporto. No dia seguinte, lá estavam todos os operários, continuando as obras recém "inauguradas".

O caso é que nem eu, nem ninguém, tem mais segurança para voar neste país. Nunca tive medo de avião mas, agora, já não sei se terei a mesma tranquilidade para dormir antes mesmo do avião decolar - ou para só acordar com ele em solo. Também não terei tranquilidade enquanto não tiver certeza de que pessoas conhecidas já estão sãs e salvas em seus destinos, sempre que alguém viajar.

Quero saber quantas mortes mais serão necessárias para que alguma providência de verdade seja tomada.